De forma recorrente e inevitável, as mudanças causadas pela pandemia da COVID-19 têm afetado o meio da arte. Na música pop, o tema tem sido tratado em grande parte dos lançamentos recentes. Assim, muitos artistas têm aproveitado o momento para dar suas visões sobre as formas que o novo modo de vida afetou seu dia a dia.

Emilie Brandt

Os Estados Unidos da América estariam vivendo o auge de seu verão agora, mas a população está passando mais tempo em casa que gostaria. E Emilie Brandt, de Los Angeles, conta sua versão adaptada da estação em “Feel it All”. Abandonando as superproduções e apostando em um vídeo mais caseiro, a cantora encontra o verão dos sonhos no próprio terraço. Enquanto o mundo lá fora parece assustador, Emilie encontra tudo que precisa em sua melhor amiga, uma tela verde e um filtro de cor quente. Além de, claro, nenhuma vergonha. A partir daí tudo acontece: drinks no sol, passeios de jet ski, dramas praianos e uma adorável invasão de seu “doguinho”. Com um pop alto-astral que acompanha as imagens perfeitamente, a artista projeta um raio de positividade em um dos momentos mais difíceis da nossa geração.

Ravages

Obviamente, o novo coronavírus tem se mostrado um grande problema mundial. Porém não é o único que roubou os holofotes nos últimos meses. Assuntos que já eram conhecidos, como o racismo, a violência policial e a espionagem virtual em massa dominaram a mídia. Contudo, os franceses da dupla Ravages não imaginavam o quanto acertariam no tom de seu clipe “Métamorphoses” quando este foi gravado, meses atrás, e lançado em 29 de maio, dia de início das grandes marchas do movimento “Black Lives Matter”, nos Estados Unidos. (As marchas continuam acontecendo, inclusive: procure saber #VidasNegrasImportam).

Entre as imagens de pessoas mascaradas, rodovias vazias, grandes olhos em telas e protestos nas ruas, Ravages canta sobre a mudança. É uma elaboração sobre o desconforto (positivo) da mudança contínua: seja internamente ou à nossa volta. A batida eletrônica de um pop agitado e um refrão chiclete envolvem essas palavras e refletem a agitação ansiosa presente mesmo nos mais monótonos dos dias. No meio de um ano implacável, enquanto mudamos hábitos e nos transformamos a cada dia, a mensagem soa certeira.

Foi Nina Simone quem disse que é impossível ser artista e não refletir o próprio tempo. Quando as futuras gerações olharem para esse ano e pensarem sobre o que aconteceu, como nos afetou e como lidamos, sabemos que – como sempre – a música pop estará lá para dar algumas dessas respostas.