SÃO PAULO – O Estádio do Morumbi, lugar de paixão pelos clubes do coração, viu o público trocar a camisa de time pela de banda. A horda de fãs e entusiastas, ostentando com orgulho o gosto musical, parecia já saber que aquela noite seria memorável.

Em sua quarta passagem por São Paulo, pode-se dizer que o Pearl Jam celebrou algumas das grandes virtudes desse senhor chamado rock: a entrega passional, o vigor, o desafio à ordem das coisas, ainda mais em um mundo que parece estar cada vez mais apático.

O público claro, não foi coadjuvante, e mostrou a que veio antes mesmo da banda subir ao palco. Talvez em uma manobra para enganar a ansiedade pré-show, uma série de “olas”, típica dos grandes clássicos de futebol, foi realizada de uma ponta a outra da arquibancada, contagiando até quem estava em outros setores do estádio. Foi bonito de ver.
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Finalmente, pouco antes das 21h, as luzes se apagam e o Pearl Jam se posiciona no palco, que passa a exibir uma bela iluminação intimista, dando corpo à balada “Long road”, que deu as boas-vindas aos presentes. Dali em diante, clássicos de uma geração, covers inspirados e uma chuva implacável deram o tom da noite.

Logo no início, depois de “Of the girl”, Vedder cumprimentou a audiência com o famoso carisma que o coloca no seleto grupo de caras mais bacanas do rock, e gastou o português que conseguiu arranhar agradecendo a presença de todos, ressaltando o quanto a banda estava feliz por estar novamente na cidade.

Mesmo com todo o contexto de celebração, um fato não poderia passar em branco. “Nosso amor vai para todos em Paris. Temos ainda muito a superar juntos”, disse em referência aos atentados ocorridos na cidade francesa na última sexta, 13, antes de “Love boat captain”, que foi uma forma de lembrar as vítimas.

A canção é emblemática, por remeter ao episódio trágico em um show da banda no festival Roskilde, em 2000, onde 9 pessoas morreram em decorrência de um tumulto. Não à toa, uma constante ao longo da apresentação foi a preocupação de Vedder com a segurança dos presentes, sempre perguntando se todos estavam bem, e que se fosse necessário parar a apresentação devido a algum problema, isso seria feito.

Uma ventania anunciou que a possibilidade de uma forte chuva poderia se concretizar, e o palco precisava estar ok se fosse o caso. Assim, Vedder explicou que enquanto a situação técnica era verificada, levaria o show no violão, e mandou “Elderly woman behind the counter in a small town”, que sempre é emocionante com a ajuda do público. Depois, setlist que segue, com tudo plugado.

A banda não economizou hits, mas também não é 100% concessões, o que torna os shows uma experiência para iniciantes e iniciados. Aquela música que não chegou a ser radiofônica, um b-side, pode dar as caras no setlist e deixar o fã mais ardoroso satisfeito, como em “Deep”, “Whipping” ou “Footsteps”.

Mas os clássicos que contemplam a trajetória de mais de vinte anos de carreira, bateram ponto e fizeram os presentes se esbaldarem: “Do the Evolution”, “Corduroy”, “Hail hail”, “Why go”, “Jeremy”, “Even flow” (esta com direito a ida do guitar man Mike McCready pra galera). Até as do último disco de estúdio, “Lightning bolt” (2013), foram cantadas a plenos pulmões, com destaque para “Sirens”.

Até aqui, já poderíamos concluir que tudo o que aconteceu já valeu por um show inteiro. Mas ainda haveria mais, afinal, show de 2 horas é para os fracos… Depois de fechar a primeira parte com a trinca “Jeremy”, “Better man” (que veio acompanhada de uma forte chuva) e “Rearviewmirror”, o primeiro bis contou com um dos momentos mais emocionantes.

Vedder falou ao público sobre o quanto as pessoas devem amar e respeitar umas as outras acima de tudo e lembrou a fragilidade da vida humana, para depois anunciar que a banda tocaria um cover de John Lennon, “Imagine”.

Ao dizer que sua mensagem de paz precisava ser ouvida, pediu a ajuda do pessoal para cantar junto e usar as lanternas dos celulares, no que foi um dos pontos altos da noite, especialmente se lembrarmos todo o contexto do pesar sobre o episódio em Paris e por que não, em Minas Gerais.

Ainda havia fôlego para um segundo bis, que trouxe “State of love and trust”, a embala casais, “Black” e a catártica, “Alive”. A homenagem aos heróis do Pearl Jam seguiu com o tradicional cover para “Rockin’ in the free world”, de Neil Young, e no que seria o arremate para um belo final, “Yellow Ledbetter”.

Mas eis que a banda, já se retirando, surpreende e resolve mandar mais uma, “All along the watchtower”, um cover arrebatador de Bob Dylan. Uma noite que será lembrada pelo alcance da música não apenas ao encantar corações e mentes, mas também, como missão na jornada por um mundo que olhe o próximo com maior empatia.

O passeio do Pearl Jam pelo Brasil ainda conta com shows em Brasília (17/11), Belo Horizonte (20/11) e Rio de Janeiro (22/11).

PEARL JAM /// ESTÁDIO DO MORUMBI @ SÃO PAULO – 14.11.2015

1- Long Road
2- Of the Girl
3- Love Boat Captain
4- Do the Evolution
5- Hail Hail
6- Why Go
7- Getaway
8- Mind Your Manners
9- Deep
10- Corduroy
11- Lightning Bolt
12- Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
13- Even Flow
14- Come Back
15- Swallowed Whole
16- Given to Fly
17- Jeremy
18- Better Man
19- Rearviewmirror
Bis
20- Footsteps
21- Imagine
22- Sirens
23- Whipping
24- I Am Mine
25- Blood
26- Porch
Bis
27- Comatose
28- State of Love and Trust
29- Black
30- Alive
31- Rockin’ in the Free World
32- Yellow Ledbetter
33- All Along the Watchtower