PORTUGAL – O último fim de semana dia do Super Bock Super Rock foi em Português e Crioulo com as presenças marcantes de Lura e Mayra Andrade.

No Palco principal, Mayra encantou os espectadores com a mistura de sons do mundo, agradeceu pela oportunidade de fazer parte do line-up do Festival e homenageou a todos os trabalhadores e morados da região da Praia do Meco, local no qual seria realizado a 26ª edição do Super Bock Super Rock e que teve de ser alterada por conta do perigo de incêndios.

Mayra Andrade não é apenas um tesouro da música cabo-verdiana, é também um tesouro da música de todo o mundo, exemplo de uma expressão artística que faz daquilo que é local a matéria da sua projeção. Mayra nasceu em Cuba, mas cresceu entre o Senegal, Angola, Alemanha e claro, Cabo Verde, e isso talvez ajude a explicar o fato de encontrarmos várias músicas dentro da música da cantora. E só assim se consegue entender verdadeiramente a história de Mayra, a partir deste mundo onde tudo se faz próximo: em 2001 venceu os Jogos da Francofonia, em Ottawa, Canadá, com uma canção em crioulo cabo-verdiano, em 2002 começa a apresentar-se na Praia e no Mindelo, Cabo Verde, em 2004 atua num dos mais conhecidos bares de world music, o Satellit Café, em Paris, em 2016 muda-se para Portugal e ao longo destes anos colabora com nomes da música de todo o mundo: Cesária Évora, Chico Buarque, Caetano Veloso, Charles Aznavour, Mariza, Pedro Moutinho, Branko entre muitos outros. E esse abraço ao mundo também fica evidente quando ouvimos os seus álbuns, desde a estreia, “Navega”, até ao mais recente “Manga”, editado em 2019. Neste último trabalho há afrobeat, outras músicas urbanas e mais música tradicional de Cabo Verde, com as participações de 2B, Akatché, Momo Wang e JC, nomes da música moderna africana, e com canções assinadas por nomes como Sara Tavares, Luísa Sobral e Cachupa Psicadélica, além dos temas da sua própria autoria.

Do lado de fora, ao pôr do sol, no Palco LG Lura animou o público com a nova música “BLA BLA BLA” sem deixar de lado a sua origem cabo-verdiana ao cantar Funáná. A cantora, filha de pais cabo-verdianos, é a primeira e única de quatro irmãos a ser artista da família, detentora de uma alma impregnada de duas culturas bem presentes na sua vida, nas suas melodias e no seu percurso artístico: a portuguesa e a cabo-verdiana.

Quando tinha 21 anos, um produtor português ajudou-a a gravar o seu primeiro álbum, um disco de dança direcionado à sua geração. Apesar do cariz comercial desse registo, a música “Nha Vida” (Minha Vida) viria a ser alvo de grande atenção. Em 2004, saiu “Di Korpu Ku Alma (De Corpo e Alma)”, o primeiro disco verdadeiramente cabo-verdiano de Lura, que rapidamente galgou todas as fronteiras devido ao tremendo sucesso de “Na Ri Na”. E desde aí nunca mais parou, com sucessivos registos que só confirmaram o enorme talento da cantora. Em 2015 deu ao mundo “Herança”, mais um disco vibrante, tremendamente dançável e puramente cabo-verdiano, transmitindo a real energia do arquipélago, o compasso e o ritmo do funaná, em temas tão marcantes como “Maria di Lida”, “Sabi di Más” e “Ness Tempo di Nha Bidjissa”. Na voz de Lura, cada tema do disco é a redescoberta da essência da mestiçagem e da música tradicional crioula feito canto universal, no segredo mais bem guardado de continente africano: o arquipélago de Cabo Verde. Em 2021, Lura iniciou uma “revolução” na sua vida e começou a preparar um novo disco. Com produção de Agir, continua a cumprir a celebração da cultura luso-africana.