Um show intimista, onde petardos roqueiros reconhecidos por suas distorções e riffs, ganharam tonalidades mais suaves. Pensar na voz do Soundgarden adornando versões acústicas para hits do rock poderia causar estranheza, afinal, quando lembramos dos vocais explosivos em músicas como “Outshined”, “Jesus Christ Pose” ou “Rusty Cage”, a atmosfera reservada passa longe.

Mas Chris Cornell já mostrou que não deve ser lembrado “apenas” como o vocalista do Soundgarden, Temple of the Dog e Audioslave. O cantor e compositor também leva uma carreira solo, onde se desafiou a ponto de arriscar um disco que flertava com o eletrônico – o qual é melhor esquecer mesmo…

Cornell trouxe em sua terceira passagem pelo Rio (as anteriores foram em 2007 e 2013), a turnê que trabalha o mais recente álbum “Higher Truth”, lançado em 2015, e além das novidades, passou a carreira a limpo e ainda presentou o público com belos covers.

Cornell deu as boas-vindas ao público carioca com “Before we Disappear”, como em uma maneira de agradecer o apreço dos fãs, pois explicou que a música é sobre a importância de se abrir e declarar o amor que se sente pelo outro. E logo no início, mandou um de seus maiores sucessos solo, “Can’t change me”, além do cover para “Nothing compares 2 U”, extasiando a audiência.

Carismático, conversou bastante com os presentes e explicando a inspiração para as canções, como em “Josephine”, composta para a sua esposa, ou quando apresentou o cover para “Thank you”, do Led Zeppelin, no qual dividiu a história e a sensação de ter na plateia o mito Jimmy Page, e a sensação de estar arruinando sua música.

Mas o show não foi apenas de um homem só. O músico Bryan Gibson, que acompanhou Cornell, foi responsável por belos momentos onde o violoncelo encorpava as canções, criando um clima dramático e arrebatando o público.

Vale o destaque para “Fell on black days”, a melancolia de “Black hole sun” e a releitura para a “A day in the life”, dos Beatles. A fase Audioslave também foi bem representada e celebrada pelos presentes, como em “Doesn’t remind me”, cantada em uníssono; a obrigatória “Like a stone” e “I am the highway”, músicas que parecem frescas na memória afetiva de quem acompanhou a banda ao longo dos anos 2000.

O bis reservou uma bela trinca: “Hunger strike”, do Temple of the Dog, entoada a plenos pulmões, reviveu o espírito grunge até naqueles que nem eram nascidos na época em que o movimento estourou no mainstream. “Seasons” mostrou a beleza daquele tipo de canção que começa introspectiva e ganha força, mas sem perder a ternura.

E colocando um ponto final em duas horas de show, “Higher truth”, reforçando que o Chris Cornell de 2016 é tão interessante quanto o dos anos 90. Agora é esperar a promessa de um breve retorno se cumprir, e quem sabe, com o Soundgarden?

Setlist

Before We Disappear
Can’t Change Me
‘Til the Sun Comes Back Around
Nothing Compares 2 U
Nearly Forgot My Broken Heart
Improvisation (Based on “Seasons”)
The Times They Are A-Changin'(Bob Dylan cover)
Josephine
Fell on Black Days (Soundgarden song)
Thank You (Led Zeppelin cover)
Doesn’t Remind Me (Audioslave song)
Wide Awake (Audioslave song)
Like a Stone (Audioslave song)
Wooden Jesus (Temple of the Dog song)
All Night Thing (Temple of the Dog song)
Blow Up the Outside World (Soundgarden song)
When I’m Down
Let Your Eyes Wander
I Am the Highway (Audioslave song)
Rusty Cage (Soundgarden song)
Black Hole Sun (Soundgarden song)
Getaway Car (Audioslave song)
A Day in the Life (The Beatles cover)

Encore:
Hunger Strike (Temple of the Dog song)
Seasons


Fotos: Lucas Tavares