Em mais uma vinda ao Rio de Janeiro, o Dead Fish novamente leva um público surpreendente ao Circo Voador. É incrível como uma banda de 27 anos de existência possa se manter tão vívida e principalmente energia em palco. Mas isso é assunto pra daqui a pouco. Nessa empreitada o Surra, lançando o segundo álbum chamado Escorrendo pelo Ralo e o Black Pantera, nos deram o privilégio de serem atos de abertura.

O Black Pantera, de Uberaba, traz em suas músicas histórias de resistência e luta voltadas para a realidade dos membros, todos negros. Músicas como “Punk Rock Nigga Roll” e “O Sexto Dia” embalaram o começo da noite, além de uma versão toda especial para a música “A Carne”, gravada por Elza Soares. Já o Surra, de SP, está acostumado a tocar no Rio de Janeiro e, com toda essa conexão, não foi difícil ganhar o público. Claro, não só pelo carisma, mas a banda executa um show impiedoso. Músicas como “Escorrendo pelo Ralo”, “Parabéns aos Envolvidos”, “Virou Brasil” e “Embalado pra Vender” mostram a junção carinhosamente apelidada pelos membros de Thrashpunk e indica a banda como uma das grandes promessas do cenário nacional.

Sem firula como nunca e afiado como sempre, o Dead Fish sobe ao palco do Circo Voador para mais um show antológico. Divulgando o álbum “Ponto Cego”, lançado este ano, o grupo capixaba mostra que o tempo não muda o que a banda sabe fazer de melhor: hardcore puro e simples, direto e crítico. Rodrigo, que funciona como um porta-voz da banda, há um tempo atrás estava um pouco calado sobre seus direcionamentos políticos, mas a noite e o momento pedem posicionamentos claros, e assim foi. Poucas e certeiras palavras, que acompanhavam músicas como “Proprietários do Terceiro Mundo”, “SelfEgoFactóide”, “Mulheres Negras” (já com a tradicional troca de vocais pelas mulheres negras que se candidatam a subir no palco”), “Zero e Um” e muitas outras.

Como o álbum novo acabou de ser lançado, músicas como “Sangue nas Mãos” (e sua lírica crítica de forma explicita), “Doutrina do Choque” e “Sombras na Caverna” foram executadas, bem como outras cinco do novo álbum. Mesmo sendo menos conhecidas, as novas músicas não abaixaram o ritmo, porque como já dito, o Dead Fish, em seus 27 anos, não diminui sua energia em momento nenhum, tanto no discurso quanto na atitude. Clássicos como “Zero e Um”, “Venceremos”, A Urgência” e “Bem-Vindo ao Clube” demonstram que os capixabas ainda têm muita lenha pra queimar.

Mais uma vez, o Dead Fish incendeia o Circo Voador, junto, nesta vez, de duas grandes promessas do cenário nacional. Nós, público, que agradecemos, já que, pelo menos, por mais uns três anos e meio, vamos precisar de bandas como essas na estrada, fazendo o que deve ser feito e falando o que deve ser dito.