Era mais uma noite quente de verão no Rio de Janeiro e era uma celebração de família. Explico o porque: Emicida iria subir ao palco do Circo para lançar oficialmente a edição em vinil de um dos mais celebrados petardos da música brasileira em 2016, o álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…, numa noite que ele ainda apresentaria aos cariocas o trabalho de seu irmão FIÓTI, que recentemente lançara o registro Gente Bonita.

Irmão, empresário e sócio na Laboratório Fantasma, Fióti resgata uma MPB leve e ensolarada em seu primeiro trabalho. Chegou a estudar música, mas acabou desistindo para empresariar. Entediado com a vida do escritório, voltou aos palcos com inclusive insistência de seu irmão, com quem compôs o primeiro single, Obrigado Darcy, que também conta com a luxuosíssima participação de Caetano Veloso. A aceitação foi tão grande e Fióti agora traça os caminhos que seu irmão também traçou. Outras ótimas músicas do artista que foram executadas são Gente Bonita, Bilhete e Nego Lutou.

Emicida é uma entidade no palco e sua palavra vale ouro no púlpito sagrado do Circo Voador, aonde a sua lona sagrada se transforma numa verdadeira igreja Ubuntu, de onde provêm os canônicos versos de Boa Esperança, Bang! E Noiz. Os devotos se espremem na pista e tentam exprimir os versos agressivos e cheios de luta e agressividade, porém incrivelmente incômodos pela verdade derramada. Músicas mais pesadas e densas como Mandume (Que Emicida canta com Drik Barbosa) e Triunfo levam o público ao delírio e nesses momentos, o Circo que já alcançava um quase êxtase gnóstico transcende e se eleva para outras dimensões, tamanha a intensidade e magnetismo do que acontecia.

Ao final da noite, Emicida eleva a temperatura do Rio de Janeiro e seus versos borbulhantes colocam mais uma vez a pista do Circo Voador em chamas. A cada passagem do rapper pelo Rio de Janeiro, a sua presença fica mais iluminada. Também pudera: Com uma banda incrível, convidados de peso e músicas que reafirmam com propriedade suas origens e criação, é difícil não achar que o artista é um dos mais relevantes dos últimos tempos. Os cariocas saúdam mais uma apresentação bem sucedida de Leandro por aqui, certamente já no aguardo da próxima.


Fotos: Wesley Magalhães / Zimel