Entre alguns grandes shows e apresentações aquém das expectativas, o Lollapalooza Brasil teve sua oitava edição na capital paulista, a sexta no Autódromo de Interlagos. Problemas de anos anteriores foram amenizados, como a questão da segurança no entorno, mas outros ainda seguem sem solução – a saída do público continua gerando grandes dores de cabeça.

Além disso, pela primeira vez a organização precisou lidar com a possibilidade de cancelamento da sua programação, por conta da previsão de tempestades. No fim das contas, a questão foi bem administrada, na medida do possível. Tanto que no sábado, o dia mais dramático, que chegou a ter portões fechados e interrupção/cancelamento de alguns shows, foi também o de maior público.

Em três dias, o autódromo recebeu 246 mil pessoas (78 mil na sexta, 92 mil no sábado e 76 mil no domingo). Uma diferença considerável em relação ao ano passado, que teve ingressos esgotados em todo o fim de semana, com público acumulado de 300 mil.

Identificado, desde sua chegada, como um festival que tenta trilhar os caminhos que a produção musical contemporânea toma, o Lollapalooza 2019 promoveu algumas estreias celebradas pelo público. A principal foi a de Kendrick Lamar, um dos maiores artistas revelados nesta década, que em seus rápidos discursos reforçou a demora para estrear no país. Foi o grande show do festival.

No sábado, o também rapper e cantor Post Malone foi outro a debutar no Brasil, carregando com ele uma multidão de tamanho raro nesta edição – justificando, então, o status de terceiro artista mais ouvido do mundo (segundo o Spotify).

Protagonistas de outras apresentações que saltaram aos olhos no festival, Lenny Kravitz e Sam Smith já estiveram no país antes, mas nunca na programação do Lollapalooza.

E o festival ainda soube valorizar o momento de atrações como Twenty One Pilots, St. Vincent e The 1975, que estiveram no evento recentemente, mas ganharam horários mais nobres em 2019. “Estivemos aqui há alguns anos (2016), o sol estava forte e era muito cedo. Agora, estamos aqui à noite, e isso aconteceu graças a vocês”, agradeceu o cantor e multi-instrumentista Tyler Joseph, do Twenty One Pilots, diante de uma colina tomada por mãos, vozes e lanternas de celular, em meio ao show intenso que o duo protagonizou no domingo.

Mais conforto

A produção deve ter lamentado os números do borderô, mas a verdade é que o público reduzido diminuiu filas, facilitou serviços, suavizou a caminhada entre palcos e melhorou a experiência como um todo.

Vale lembrar que o Rock in Rio, que raramente tem problemas para vender ingressos, fez a opção de diminuir sua carga diária de 100 mil para 85 mil ingressos, em 2017, pensando exatamente no conforto dos clientes.

Segurança

Depois de arrastões na saída em 2018, a segurança do entorno foi reforçada. A melhoria ficava ainda mais evidente ao contar as viaturas posicionadas na Avenida Interlagos, epicentro dos episódios do ano passado.

Nas redes sociais, relatos de furtos de pertences (celulares, principalmente), que costumam ser comuns em eventos deste porte, também diminuíram.

Administração de crise

Diante do mau tempo do sábado, que causou fechamento dos portões após o início do evento, evacuação de áreas de maior risco e interrupção do serviço de transfer, o Lollapalooza se viu diante de seu grande desafio operacional.

Na medida do possível, a organização acabou se saindo bem, mantendo a comunicação pelas redes sociais. Quando a boataria sobre um suposto cancelamento das atividades do dia ganhou força, Fernando Altério, presidente da produtora T4F, que organiza o Lollapalooza Brasil, foi ao Multishow prestar esclarecimentos e deu uma previsão de reabertura dos portões que acabou se concretizando — o executivo raramente aparece para entrevistas.

No fim das contas, alguns poucos shows foram cancelados ou reduzidos, como os de snow Patrol, Silva e Rashid, a programação voltou em seu horário normal e o sábado teve o maior público desta edição, com 92 mil pessoas.

Saída

Problema histórico do festival desde que passou a chamar Interlagos de casa, o escoamento do público ainda não foi resolvido. No sábado, o dia mais cheio, foi especialmente caótico para aqueles que tentavam buscar transporte privado.

Na sexta-feira, uma multidão de pessoas ficou para o lado de fora da estação Interlagos da CPTM, que fechou seus portões pontualmente às 24h, mesmo com uma fila no acesso. Para piorar, houve relatos de queda de luz nos trilhos e fechamento de estações que fazem baldeação entre linhas.

Más escolhas

A banda americana Kings of Leon foi um dos piores headliners dos oito anos de festival, com um show de volume baixo, pouca pressão, sem novidades para apresentar ao público e uma má vontade evidente. Faria mais sentido bancar o Twenty One Pilots, headliner nas edições na Argentina e no Chile, que foi um grande sucesso no palco secundário domingo, com uma performance eletrizante.

Além disso, outras atrações foram prejudicadas pelo horário, como o Interpol, com seu show introspectivo e figurinos escuros logo no momento em que o sol dava as caras. Com história no festival e no país, a banda nova-iorquina merecia um horário mais nobre que o estreante Greta Van Fleet, por exemplo. O mesmo vale para os britânicos do Foals, atração de sexta-feira.

O tempo

A iminência de chuva era anunciada pela previsão do tempo há semanas, mas ainda assim causou transtornos e deve ter prejudicado aquela fatia do público que decide comprar ingresso em cima da hora.

Na sexta-feira, não choveu, e a paralisação no sábado foi muito para prevenção, já que o céu anunciava uma tempestade que castigou com força outros pontos da cidade, mas passou rapidamente por Interlagos. Depois, apenas algumas chuvas esparsas, tanto no sábado quanto no domingo.