Que a internet mudou os rumos da música, disso ninguém duvida. E um dos pontos positivos de curtir um som na era digital, certamente, é a possibilidade de conhecer artistas que se dependessem da lógica do rádio, possivelmente nem ouviríamos falar. Além disso, a relação artista-fã também ganhou novos contornos, ficando mais estreita. Aquele cantor ou banda que não sai da nossa playlist, não necessariamente está num pedestal inatingível. Que o digam os fãs da cantora e compositora de indie folk Lucy Rose, que, com a cara, coragem e o violão, colocou o pé na estrada e está em turnê pela América do Sul, no melhor esquema mochilão.

Lucy queria conhecer o mundo. O fato de ser artista facilita um pouco a possibilidade de visitar novos lugares, mas a inglesa queria ir muito além dos limites do continente europeu. E o fato de saber que sua música era bem recebida em países tão distantes a impressionava.

Enquanto isso, mensagens dos entusiastas sul-americanos nas redes sociais celebravam suas canções, mas por outro lado, lamentavam o fato de que talvez nunca assistiriam a um show de sua musa, por estarem tão longe… Lucy concluiu que poderia levar sua música simplesmente onde alguém quisesse um show seu. Então, um post em uma rede social em 2015, avisou a quem interessasse que ela poupou uma ‘graninha’ e estava pronta para embarcar. Bastava conseguir o lugar para tocar e claro, a hospedagem e alguém com boa vontade para fazer, às vezes, de guia local, que por extensão, poderia se tornar grande parceiro de aventuras.

Daí em diante, a bola passou para os fãs, que começaram a se organizar. E no final deu tudo certo: uma turnê agendada por admiradores! E é nesse espírito que a Lucy vem levando a “South America & Mexico Tour” desde março, com a parte brasileira da turnê iniciada em Porto Alegre, que passou ainda pelo Rio (onde foi show de abertura para José González), encerrando essa semana em São Paulo. A cantora traz na mochila junto com o violão o mais recente trabalho, Work it out (2015), onde ousa em relação ao disco Like I used to (2012), ao flertar com o eletrônico, mas bem de leve.

A turnê de Lucy vem rendendo para além dos shows. A cantora vem registrando o que acontece em uma espécie de diário de bordo, e relata momentos curiosos, como no Paraguai, onde se apresentou em um local freqüentado por um público mais abastado. Mesmo com a entrada gratuita para o show, os comes e bebes e mesas reservadas caros atraíram um público um pouco diferente do que costuma apreciar o seu folk.

Ao se ver tocando para pessoas não muito interessadas na música, e o barulho incessante das conversas que quebravam a atmosfera das canções mais introspectivas, Lucy avisou que poderia fazer um show acústico do lado de fora do bar, se alguém quisesse. E assim, quem foi pela música, teve a apresentação que merecia (confira o relato completo aqui).

Ainda não há texto sobre o Brasil, mas estamos ansiosos. Até lá, você pode conferir ainda o que rolou no Peru e na Argentina. Nesta terça é a última chance de conferir Lucy Rose e suas canções, e mais que isso: uma artista que reflete bem a geração a que pertence, mostrando que basta vontade e uma boa conexão – de pessoas e de internet – para fazer dar certo.