O cenário era o mesmo (Itaipava, Serra Fluminense), mas o Rock da Montanha de 2023 estava diferente: vozes de mulheres (todas brasileiras), vegetariano e público de diferentes grupos e gerações.
A 10ª edição do festival trouxe a arte e a potência de vozes de artistas brasileiras que ressoaram em harmonia com músicas que celebraram a diversidade cultural do Brasil. E aqui, eu estou falando de um line up multigeracional, desde as lendas Maria Bethânia e Margareth Menezes até Marina Sena e Rachel Reis.
No sábado, as atrações mais aclamadas foram a carioca Marisa Monte, a paulista Maria Rita, a paraense Dona Onete e a maranhense Alcione, marcando também a representação de vários estados brasileiros no festival, formando um retrato da diversidade musical brasileira. Maria Rita fez homenagem à mãe, cantando a clássica “Ladeira da Preguiça” e “O Bêbado e a Equilibrista”.Era samba, carimbó, bolero, bossa nova, tudo junto.
A energia do carimbó paraense era tanta que Dona Onete fez o público dançar do início ao fim, mesmo apresentando o show sentada; ela é maravilhosa. Além de carimbó, também teve muito rock no domingo com Paula Toller e Pitty.
A carioca Paula Toller trouxe hits da banda pop rock Kid Abelha e fez homenagem a Rita Lee cantando “Agora só falta você”. Já o rock baiano de Pitty foi um show à parte; a cantora apresentou músicas de várias fases de sua carreira como “Admirável Chip Novo” e “Na Sua Estante”, levando o público à catarse com “Me Adora”. Pitty estava emocionada com a conexão e afetividade do público ao fim do show, afinal todo mundo pedia bis, mas a organização do evento prezou por cumprir os horários em respeito também ao público e atrações.
Aliás, Itaipava virou um pedacinho de Salvador: Daniela Mercury, Margareth Menezes, Rachel Reis, Pitty e Maria Bethânia, todas baianas! E, Maria Bethânia foi uma das apresentações mais esperadas desta edição. Não é à toa, né?! Ela é uma voz lendária da nossa MPB, do nosso imaginário baiano; enfim, uma artista que dispensa apresentações. E estávamos lá, TODO O PÚBLICO do Rock da Montanha esperando por ela: a diva, ou um orixá, como a apresentadora disse. E foi num palco, no meio da floresta, que ouvimos e cantamos juntos “Fera Ferida”, “Mulheres do Brasil” e “Gostoso Demais”. Realmente, foi gostoso demais também ouvir covers do Caetano, do Erasmos e do Beto Guedes nessa apresentação. Afinal, “Reconvexo”, “Vem Quente que Estou Fervendo” e “Amor de Índio” na voz da Bethânia ao vivo é algo inexplicável, que emociona e arrepia.
Maria Bethânia também cantou Chico Buarque e homenageou a amiga Gal Costa, pedindo aplausos para a sua voz imortal. A apresentação da baiana foi marcada por muitos pontos altos, inclusive pelo pot-pourri carnavalesco “Ala-la-ô / A Filha da Chiquita Bacana / Chuva, Suor e Cerveja / Água Lava Tudo”. Bethânia fez o público sambar, cantar e chorar.
Mas não foi só o rock de Pitty e o swing baiano de Bethânia que fizeram o público vibrar. A cantora mineira Marina Sena também fez o público delirar, cantar e dançar com sua equipe de dançarinas maravilhosas. Marina Sena é espontaneidade e luz; voz suave e hipnotizante-sensual.
E assim aconteceu  a melhor edição do Rock da Montanha, começando com Maria Rita e fechando com Daniela Mercury, outra baiana de peso que dispensa apresentações, é uma voz brasileira potente e arrebatadora, ninguém pode negar. Ela que trouxe essa leveza da “baianidade nagô” para a 10ª edição do festival. Temos orgulho de você, Daniela!
O Rock The Mountain 2023 foi lindo, harmônico e inclusivo. Deu voz às mulheres e à diversidade. E assim, aguardamos a próxima edição, que já está com a pré-venda aberta.

Texto: Fernanda Tavares
Fotos: Agatha Gameiro