Os tais 38° (botem mais uns 4° aí de sensação térmica) previstos se confirmavam sobre a plateia do Palco Sunset, sem sombra, quando Céu começou seu show no Rock in Rio. Mas a plateia – uma base de fãs da Céu numerosa e que sabia cantar e vibrava cada vez que se anunciavam os primeiros acordes de uma nova canção – não parecia se preocupar com isso.

Pelo contrário, o groove quente/frio (orgânico/digital) do “Tropix” encontrou harmonias possíveis no clima do verão/inverno carioca, derretendo bem, como espuma de chope. Quando ela cantou “Tardes de veraneio/ (…) Anunciando a noite neon” (versos de “Varanda suspensa”), tudo fez sentido. E quando tudo teve que se rearmonizar com a chegada do Boogarins – banda que dividiu o show com a cantora – novos sentidos conseguiram se instalar, com menos apelo sobre o publico, mas também consistentes.

Casaco arco-íris, Céu começou sua apresentação – segunda do dia no palco Sunset, aberto por SG Lewis – introduzindo sutilmente o tom da tarde, com “Rapsódia brasilis”. Em seguida, “Perfume do invisível”, recebida como hit, e “Etílica”, também certeira sobre o público, abriram caminho para que a grama sintética se tornasse pista de dança em “A nave vai”. Sua banda conduzia tudo com a segurança de quem está há mais de um ano em turnê com “Tropix”.

Mas a tarde não era só de segurança. A transição se iniciou quando o Boogarins, banda de Goiânia que é um dos maiores destaques da atual cena indie brasileira, subiu ao palco para tocar “Camadas” com Céu. Gravada em “Tropix”, a música é parceria da cantora com Dinho, guitarrista e vocalista da banda.

Ao lado dos goianos (a banda de Céu saiu do palco), a canção ganhou novas (vá lá) camadas de psicodelia. Eles seguiram juntos ainda em “Foi mal”, “Elogio da instituição do cinismo” e “Benzin” – num encontro real de duas gerações (mais que isso, duas linhagens) da música brasileira contemporânea. Heranças negras filtradas majoritariamente em graves (no caso da Céu) e em agudos (no caso dos Boogarins).

Depois do momento sem Céu (estrela do encontro), Boogarins recebeu-a de novo no palco, desta vez com banda, para encerrar o show com “Chegar em mim”, do álbum “Caravana sereia bloom”, da cantora, confirmando a química – objetivo maior do Sunset.

Confira o setlist:
1 – Rapsódia Brasilis
2 – Perfume do Invisível
3 – Etílica
4 – A Nave Vai
5 – Varanda Suspensa
6 – Camadas
7 – Foi Mal
8 – Elogio à instituição do cinismo
9 – Benzin
10 – Corredor Polonês
11 – Lá Vem a Morte
12 – Lá Vem a Morte Parte 2 e Parte 3
13 – Chegar em Mim

Texto de Leonardo Linchote, Agência O Globo