Produzido pelos mesmos organizadores do Free Jazz Festival e do Tim Festival, o C6 Fest fará sua estreia neste mês, com eventos em São Paulo (de 19 a 21, no Parque Ibirapuera) e no Rio de Janeiro (versão reduzida, de 18 a 20, no Vivo Rio). A programação apresentará uma seleção de renomados artistas internacionais do rock, música eletrônica e jazz, capaz de fazer os fãs fervorosos suspirarem. Entre os destaques, teremos a presença de nomes consagrados como Samara Joy (dia 19 no Rio e dia 21 em São Paulo) e Jon Batiste (também dia 19 no Rio e dia 20 em SP). Um dos grandes momentos aguardados será a apresentação da banda norte-americana The War on Drugs, aclamada no cenário indie rock dos anos 2000, que fará sua primeira visita ao Brasil (dia 20 no Rio e 21 em SP). Uma dobradinha interessante será feita com o grupo britânico Dry Cleaning, a nova sensação do rock, que também fará sua estreia no país. Eles apresentarão seu aclamado segundo álbum, “Stumpwork”, lançado no ano passado, em um único show em São Paulo, no dia 19.

O aclamado grupo, conhecido por seus álbuns “Lost in the Dream” (2014) e “A Deeper Understanding” (2017), está de volta em 2021 com “I Don’t Live Here Anymore”. Mesmo sendo gravado e lançado durante os dias da Covid-19, o líder da banda, Adam, não o considera simplesmente “um álbum da pandemia”.

Mesmo em sua mais recente obra musical, Adam Granduciel não hesita em revelar a influência que artistas como Bob Dylan, Tom Petty e Bruce Springsteen exercem sobre ele. Essas figuras icônicas são consideradas por ele como “filtros” que moldam sua própria música. Essa conexão é tão profunda que o filho de Adam foi nomeado Bruce, em homenagem a um dos seus ídolos musicais.

A banda britânica Dry Cleaning, formada em Londres em 2017, possui um nome prosaico que reflete sua abordagem musical singular. Surpreendendo o público com seu uso de influências do pós-punk mais experimental, com nuances de bandas como PIL, Wire e The Fall, eles se destacam por seus vocais falados, ao invés de cantados. Em uma entrevista ao jornal O GLOBO, a vocalista Florence Shaw e o baixista Lewis Maynard expressam sua incredulidade diante do sucesso alcançado por sua empreitada musical.

Foi meio acidental, não era algo que tivéssemos planejado com muito cuidado, fazíamos músicas para agradar a nós mesmos. Foi apenas pela diversão, não éramos muito ambiciosos quando começamos. Não esperávamos virar uma banda grande — diz Florence.

Após serem contratados pelo icônico selo 4AD, conhecido por representar grupos renomados como Cocteau Twins e Pixies, o Dry Cleaning teve a oportunidade de realizar um sonho ao trabalhar com John Parish, renomado produtor musical que colaborou com artistas como PJ Harvey. A banda entrou em estúdio para gravar seu segundo álbum, “New Long Leg” (2021), desfrutando do luxo de ter mais tempo para se dedicar ao processo criativo em comparação com sua estreia. A cantora expressa sua emoção ao ver esse sonho se tornar realidade.
Atualmente, o Dry Cleaning tem sido frequentemente associado a outras bandas britânicas contemporâneas, como Black Country, New Road (que também se apresentará no C6 Fest, dia 20 no Rio e 21 em São Paulo), Black Midi e Shame. Essas bandas têm revitalizado a cena do rock inglês por meio de abordagens excêntricas e uma multiplicidade de referências musicais. Essa nova geração de grupos tem se destacado pela sua originalidade e pela forma como exploram diferentes estilos e influências, trazendo um frescor ao panorama musical britânico.

Palco de encontros entre diferentes gerações

Quem passou sua juventude em boates e cinemas dos anos 1990 dificilmente escapou da dupla galesa Underworld: “Born slippy”, a mais engenhosa combinação bate-estacas com teclados atmosféricos, famosa na trilha do filme “Trainspotting” (1996), marcou época e ajudou Karl Hyde (vocais e guitarra) e Rick Smith (teclados) a solidificarem uma das mais duradouras parcerias da história da música eletrônica (40 anos atrás, em plena era do synthpop, eles já roçavam as paradas de sucesso com “Doot-doot”, hit do projeto Freur). Depois de uma passagem breve pelo Brasil em 2006, com o Underworld, eles voltam no C6 Fest para apresentações dia 18 no Rio e 20 em São Paulo.

— Vocês, brasileiros, entendem de dança e de comida, que é uma combinação matadora — graceja Karl, em entrevista por Zoom ao GLOBO, junto com Rick.

No começo do mês passado, o Underworld reapareceu na cena com o single “And the colour red”.

— Esta é uma faixa particularmente suja e despojada. Vamos tocar algumas músicas novas aí no Brasil, junto com “And the colour red”. Estamos trabalhando em muitas, muitas coisas — diz Rick Smith, sem certeza se a nova faixa fará parte de algum novo álbum do Underworld. — Nosso último álbum, “Drift”, nem era exatamente um álbum, era uma série de discos que aconteceu porque passamos praticamente um ano lançando música toda semana. Portanto, não temos certeza de qual forma nossos lançamentos terão. Talvez leve ainda um ou dois anos até sair um novo álbum, seguimos experimentando.

“Born slippy”, é claro, faz parte do repertório dos shows da dupla. Mas ela não está muito aí para o passado.

— Eu passo mais tempo ouvindo o que há de novo, o que os jovens estão fazendo, do que ouvindo o que foi feito antes. E é por isso que ainda estamos fazendo música agora, e não apenas nos repetindo — diz Rick. — De vez em quando eu volto à música do passado, especialmente à de outros artistas, e é incrível, mas os jovens hoje em dia estão fazendo uma música que é verdadeiramente extraordinária e que parece muito mais relevante para mim agora, para meus filhos e meus amigos. Eu amo as coisas boas do passado, mas quero viver o agora.

Para Karl, os jovens “estão seguindo em frente e reavaliando o passado, mas assimilando-o de acordo como as pessoas se sentem agora”.

— O lado negativo da nostalgia é que ela pode estar enraizada em algum tipo de ideia do passado, mas os artistas contemporâneos estão reavaliando o passado misturando-o com um futuro. Há uma espécie de combinação de respeito e desrespeito realmente saudável. É arte, é real — diz Karl Hyde, que é fã de artistas novos como o inglês Mall Grab, a sul-coreana Peggy Gou e o sueco Yung Lean, além de pai de Tyler Hyde, baixista do Black Country, New Road. — Eles (o BCNR) são exemplos extraordinários do que é possível fazer se você se unir a outras pessoas, e é lindo ver seus filhos sendo felizes, com algo que eles adoram fazer. Perguntei à minha filha se ela não se importava que sua primeira viagem ao Brasil fosse estragada pelo fato de seu pai também estar lá… E ela disse: “É claro que não, pai, estaremos na plateia para ver vocês!”

Uma alegria para o Underworld no C6 Fest será apresentar-se nas mesmas noites que os alemães do Kraftwerk, o grupo que praticamente inventou o pop eletrônico nos anos 1970.

— É meio louco, mas não deixa de ser familiar, já que tocamos com eles muito tempo atrás. A música deles que eu ouvi num walkman nos anos 1980 mudou significativamente minha vida. E ainda acho os álbuns deles incríveis, é como música celestial — derrama-se Rick Smith. — É muito bom estar com o Kraftwerk e, ao mesmo tempo, com o Black Country, New Road, nessa celebração. É simplesmente maravilhoso.